Robô LumiBot usa luz para diagnóstico precoce de nematoides em algodão e soja

A Embrapa Instrumentação (SP), em parceria com a Cooperativa Mista de Desenvolvimento do Agronegócio (Comdeagro), de Mato Grosso, desenvolveu um sistema robótico autônomo capaz de detectar precocemente a presença de nematoides em plantas de algodão e soja. O equipamento, batizado de LumiBot, opera à noite emitindo luz ultravioleta-visível sobre as folhas e capturando a fluorescência por meio de câmeras científicas, permitindo identificar infecções antes mesmo do aparecimento dos sintomas visuais.

A tecnologia chega em um momento em que a cotonicultura e a sojicultura brasileiras têm previsão de safra recorde para 2025/26, com 4,09 milhões de toneladas de pluma e 177,67 milhões de toneladas de grãos de soja, segundo dados da Conab. No entanto, ambas as culturas enfrentam a ameaça dos nematoides, parasitas microscópicos de 0,3 a 3 milímetros que comprometem as raízes e podem causar perdas de até 60% na produtividade.

Atualmente em fase de protótipo, o LumiBot já apresenta taxas de acerto acima de 80% nos diagnósticos, de acordo com a pesquisadora Débora Milori, coordenadora do estudo e do Laboratório Nacional de Agrofotônica (Lanaf). “Conseguimos gerar modelos capazes de diferenciar infecções por nematoides de outros fatores, como o estresse hídrico”, explica. O robô já coletou cerca de sete mil imagens ao longo de três anos de pesquisa em experimentos conduzidos em casa de vegetação.

A próxima etapa prevê a adaptação da tecnologia para uso em campo, possivelmente integrando o sistema óptico a veículos agrícolas como pulverizadores ou rovers. O LumiBot será apresentado durante o Simpósio Nacional de Instrumentação Agropecuária (Siagro), que ocorre entre 14 e 16 de outubro, no Campo Experimental em Automação Agropecuária da Embrapa Instrumentação, em São Carlos (SP).

De acordo com Milori, o método convencional de controle de nematoides envolve o uso de nematicidas aplicados no solo ou nas sementes, técnica de alto custo e impacto ambiental. “Uma alternativa mais eficiente e econômica seria o monitoramento inteligente da área plantada, aplicando medidas de controle apenas nas regiões infestadas. As técnicas fotônicas surgem como uma solução promissora nesse contexto”, destaca a pesquisadora.

O consultor da Comdeagro, Sérgio Dutra, reforça que o diagnóstico precoce representa um avanço importante para a agricultura de precisão. “Com essa tecnologia, é possível evitar o uso excessivo de defensivos e reduzir impactos ambientais, além de melhorar a qualidade da fibra e a rentabilidade do produtor”, afirma.

O LumiBot utiliza a técnica fotônica de Imagem de Fluorescência Induzida por LED (LIFI), método não destrutivo e rápido que analisa processos fisiológicos das plantas por meio da emissão de luz. As imagens, captadas em apenas sete segundos em ambiente escuro, são processadas por algoritmos de aprendizado de máquina, que reconhecem padrões associados a diferentes tipos de estresse biótico (causado por fungos, bactérias ou vírus) e abiótico (como deficiência nutricional ou falta de água).

O robô se movimenta sobre trilhos instalados entre as fileiras de cultivo, emitindo feixes de luz sobre as folhas e armazenando os dados em dispositivos externos para análise posterior. A equipe multidisciplinar do projeto inclui pesquisadores e estudantes das áreas de física, biotecnologia, engenharia e biologia, responsáveis pelo desenvolvimento óptico, automação, análise de dados e manejo das plantas.

O projeto conta com o apoio da Embrapii Itech-Agro, unidade de integração tecnológica da Embrapa Instrumentação, e foi desenvolvido em parceria com a empresa Equitron Automação, de São Carlos (SP). O objetivo é minimizar custos e ampliar a aplicabilidade da tecnologia nas cadeias produtivas da soja e do algodão.

Os nematoides, segundo a Embrapa, são responsáveis por prejuízos de R$ 27,7 bilhões anuais na sojicultura e até R$ 4 bilhões na cotonicultura. Espécies como Rotylenchulus reniformis e Aphelenchoides besseyi são as mais comuns nas lavouras brasileiras, causando redução na absorção de nutrientes, deformação de tecidos e perdas severas de produtividade.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN), os parasitas estão presentes em praticamente todas as regiões agrícolas do país. A presidente da entidade, Andressa Cristina Zamboni Machado, alerta que o diagnóstico incorreto ou tardio é um dos principais fatores que agravam os danos econômicos. “Esses organismos são altamente agressivos e muitas vezes passam despercebidos até que as perdas sejam irreversíveis”, afirma.

Com a integração entre ciência, tecnologia e sustentabilidade, o LumiBot representa um marco para o manejo inteligente de doenças agrícolas, oferecendo aos produtores uma ferramenta de precisão para proteger lavouras e reduzir impactos ambientais, alinhada às novas demandas da agricultura brasileira.

Redação Pec&AgrBr

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