A importância de uma boa forrageira para a sustentabilidade da pecuária brasileira
A importância de uma boa forrageira para a sustentabilidade da pecuária brasileira
Jataí (GO), 14 de outubro de 2025 – Nesta segunda-feira (14), é comemorado o Dia da Pecuária, data que destaca a relevância de uma das atividades mais representativas do agronegócio brasileiro. Em 2025, a celebração ganha um significado especial com o cinquentenário da Embrapa Cerrados, instituição que há meio século se dedica à geração de conhecimento e inovação para o setor, especialmente na área de melhoramento de forrageiras adaptadas ao bioma Cerrado.
O agronegócio segue como um dos pilares da economia nacional. Segundo o IBGE (2025), o setor representou 23,2% de toda a riqueza produzida no país em 2024, com crescimento de 1,81% em relação ao ano anterior. O destaque foi o ramo pecuário, que registrou alta de 12,48%. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) projeta para 2025 um Valor Bruto da Produção (VBP) de R$ 511,6 bilhões na pecuária, aumento de 13,1% em relação a 2024. A carne bovina responde por 48,1% desse total e o leite por 19,8%, com previsões de crescimento de 18,4% e 19,8%, respectivamente.
A pecuária bovina brasileira é predominantemente baseada em pastagens — mais de 80% dos animais se alimentam exclusivamente da biomassa produzida por forrageiras tropicais. Esse modelo de produção é mais econômico e resiliente do que o confinamento, mantendo custos menores por arroba produzida e garantindo competitividade internacional ao país.
Entretanto, a escolha inadequada das cultivares, o manejo incorreto dos pastos e o uso insuficiente de corretivos e fertilizantes ainda resultam em baixa produtividade e degradação de pastagens, um dos principais desafios ambientais do setor. A seleção correta de forrageiras depende de diversos fatores, como tipo de solo, clima, regime de chuvas, categoria animal e presença de pragas e doenças. Por isso, o acesso a uma ampla variedade de cultivares adaptadas é essencial para o sucesso da atividade pecuária.
Desde 1975, a Embrapa Cerrados, em parceria com outras unidades da Embrapa, instituições internacionais e empresas privadas, tem desenvolvido cultivares adaptadas ao Cerrado. Cerca de 60 pesquisadores contribuíram para o desenvolvimento de 28 cultivares de gramíneas e leguminosas forrageiras tropicais, entre elas espécies dos gêneros Andropogon gayanus, Stylosanthes guianensis, Brachiaria brizantha, B. decumbens, B. humidicola, Panicum maximum, Pennisetum purpureum, Arachis pintoi e Paspalum atratum.
A primeira cultivar lançada pela Embrapa foi o Andropogon gayanus “Planaltina”, em 1980. Naquele período, a pecuária ainda dependia de pastagens nativas de baixa produtividade e pouca disponibilidade de insumos. A cultivar Planaltina trouxe adaptação aos solos ácidos e pobres em nutrientes do Cerrado e resistência às cigarrinhas-das-pastagens, viabilizando o uso de pastagens cultivadas em larga escala.
Em 1984, surgiu um dos maiores marcos da pecuária brasileira: a Brachiaria brizantha “Marandu”, desenvolvida pela Embrapa Gado de Corte e Embrapa Cerrados. A cultivar combinava resistência a pragas, alto rendimento e ampla adaptação ambiental, tornando-se a gramínea forrageira tropical mais plantada do mundo, com mais de 50 milhões de hectares no Brasil e presença em diversos países.
Em 2022, a Embrapa Cerrados lançou a cultivar Andropogon gayanus “Sarandi”, voltada a solos de baixa fertilidade. A nova variedade apresenta maior proporção de folhas, colmos mais finos e alta qualidade nutricional, com ganhos de peso superiores a um quilo por animal/dia durante o período chuvoso, mantendo rusticidade e resistência às cigarrinhas-das-pastagens.
Atualmente, o portfólio de forrageiras tropicais da Embrapa é amplo e diversificado. As informações sobre cultivares estão disponíveis no portal da instituição e no aplicativo Pasto Certo 2.0, que auxilia o produtor na escolha das espécies mais adequadas às condições de sua propriedade.
O desenvolvimento de uma nova cultivar leva, em média, de 12 a 15 anos, e a demanda por soluções sustentáveis cresce a cada dia. A pecuária brasileira, responsável por exportar carne para mais de 150 países, enfrenta pressão internacional pela redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE). Pastagens mais produtivas e nutritivas contribuem diretamente para essa meta, ao aumentar a eficiência alimentar e reduzir a emissão de metano entérico por quilo de carne ou litro de leite. Além disso, pastos bem manejados funcionam como sumidouros de carbono, ajudando a mitigar as mudanças climáticas.
Sistemas integrados, como a Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), reforçam essa transição para uma pecuária de baixo carbono. Neles, o uso de forrageiras modernas e leguminosas fixadoras de nitrogênio é essencial para reduzir a dependência de fertilizantes químicos e melhorar a sustentabilidade da produção.
Com consumidores mais exigentes e margens de lucro mais estreitas, o produtor precisa aproveitar ao máximo os recursos da propriedade. Nesse contexto, a diversificação das pastagens e o uso de cultivares modernas e adaptadas são fundamentais para garantir produtividade, rentabilidade e sustentabilidade.
Com a implementação do Programa Nacional de Conversão e Recuperação de Pastagens Degradadas (PNCPD), instituído pelo Decreto nº 11.815/2023, o Brasil pretende recuperar ou converter 40 milhões de hectares de pastagens degradadas. Para alcançar essa meta, a adoção de novas cultivares e o manejo adequado serão fundamentais para consolidar uma pecuária cada vez mais eficiente, sustentável e alinhada às exigências da sociedade contemporânea.

