Crise climática ameaça cultivo de alface em campo aberto, aponta estudo da Embrapa

O cultivo de alface em campo aberto no Brasil pode se tornar inviável durante o verão até o fim deste século devido ao aumento das temperaturas provocado pelas mudanças climáticas. O alerta é de um estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura e Pecuária.

De acordo com os pesquisadores, em um cenário otimista de aquecimento global, entre 2071 e 2100, cerca de 97% do território brasileiro apresentará risco climático alto ou muito alto para o cultivo da hortaliça no verão. A alface é considerada altamente vulnerável a temperaturas elevadas e depende de clima ameno e boa umidade para se desenvolver.

O engenheiro-agrônomo Fábio Suinaga, pesquisador da Embrapa Hortaliças, explica que a espécie tem mínima adaptação ao calor. “Os números projetados são preocupantes porque as sementes de alface exigem temperaturas inferiores a 22°C para germinar”, afirmou.

Cenários projetados

A análise foi feita a partir de dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). O estudo considerou dois cenários:

Otimista (RCP 4.5): controle das emissões de gases do efeito estufa, com aumento médio entre 2°C e 3°C. Nesse caso, 79,6% do território nacional terá risco alto e 17,4%, muito alto.

Pessimista (RCP 8.5): emissões em crescimento até 2100, com elevação de até 4,3°C. Nesse cenário, 11,8% do território terá risco alto e 87,7%, muito alto.

As projeções indicam que o verão será a estação mais crítica, com temperaturas podendo superar os 40°C em grande parte do país, patamar acima do limite para o desenvolvimento adequado da alface.

Efeitos do calor

Entre os principais impactos, a Embrapa cita a ocorrência da chamada queima de borda (tipburn), caracterizada por manchas escuras nas folhas devido à deficiência de cálcio, além do florescimento precoce (pendoamento), que reduz a qualidade e o padrão comercial da hortaliça.

Importância do estudo

Para o engenheiro-ambiental Carlos Eduardo Pacheco, da Embrapa, compreender os riscos é essencial para antecipar estratégias. “Os mapas evidenciam a urgência de pensarmos em sistemas produtivos adaptados ao clima, especialmente para hortaliças, que são mais sensíveis que culturas como milho e soja”, destacou.

Os resultados mostram que, mesmo no cenário otimista, quase todo o país terá risco alto de inviabilidade, com exceção de pequenas áreas no Sul, onde o risco é moderado.

Caminhos para adaptação

Desde a década de 1970, a Embrapa desenvolve soluções para aumentar a produtividade no campo. Entre as estratégias estão o melhoramento genético de cultivares mais resistentes ao calor, como a BRS Mediterrânea, e pesquisas sobre sistemas radiculares mais vigorosos para melhor absorção de água e nutrientes.

Os pesquisadores também pretendem ampliar os estudos para outras hortaliças, como tomate, batata e cenoura, com o apoio de inteligência artificial para acelerar a geração de mapas de risco climático.

Produção nacional

Segundo o último Censo Agropecuário do IBGE, realizado em 2017, o Brasil produzia 671,5 mil toneladas de alface por ano, com São Paulo respondendo por quase 40% do total. Dados mais recentes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram que, em agosto de 2025, 11 Centrais de Abastecimento comercializaram 4,6 mil toneladas da hortaliça, com destaque para São Paulo, Curitiba e Fortaleza.

Redação Pec&AgrBr

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