Tarifaço dos EUA não é soberania – é o preço da omissão do governo

Por Maycon Tombini — Colunista do Pecuária e Agricultura Br.
Enquanto o presidente da República declara que “hoje é o dia sagrado da soberania” após sancionar leis simbólicas e ignorar o impacto econômico do tarifaço americano, o agronegócio brasileiro observa — em silêncio — o preço de uma diplomacia ausente. A partir de 1º de agosto, produtos nacionais como carne bovina, suco de laranja, café e frutas serão taxados em até 50% ao entrarem no mercado norte-americano. Um golpe direto e pesado ao setor que mais gera superávit para a economia brasileira.
Chamar isso de “soberania” é ignorar o que está acontecendo no mundo real. O governo federal falhou em se antecipar, negligenciou a diplomacia e agora tenta transformar o prejuízo em discurso político. A dura verdade é que o Brasil está sendo punido pela sua própria omissão. O agronegócio, mais uma vez, está pagando a conta da ideologia e do improviso.
A dependência do Brasil em relação ao mercado americano é clara: exportamos cerca de US$ 40 bilhões por ano para os Estados Unidos, com o agro respondendo por uma fatia significativa desse total. Mesmo assim, nenhuma medida concreta foi tomada para evitar ou ao menos mitigar o impacto das tarifas. Não houve visitas oficiais de alto nível, não houve negociações diretas com Washington. Só promessas vagas, reuniões internas e discursos vazios.
Os números já mostram o tamanho do prejuízo: queda de 67% nas exportações de carne bovina, 54% no suco de laranja e 41% no café — antes mesmo da nova tarifa entrar em vigor. Estados como Goiás podem perder quase R$ 800 milhões em PIB, e o impacto nacional pode superar os R$ 80 bilhões. Isso não é narrativa. É realidade. E quem sofre são os produtores, os trabalhadores rurais, as indústrias do campo e, no fim, toda a população brasileira.
Enquanto isso, o governo finge que tudo está sob controle. Cria comitês técnicos, mas não se senta à mesa com quem realmente decide. Fala em soberania, mas se recusa a defender com firmeza os interesses comerciais do Brasil no cenário internacional. A retórica bonita não paga boleto, nem sustenta emprego no campo.
O agronegócio exige respostas, não simbolismos. O Brasil precisa de diplomacia estratégica, não de vaidade política. Ainda há tempo de agir: buscar diálogo direto com os EUA, negociar suspensão ou modulação das tarifas e garantir apoio real aos setores prejudicados.
O tarifaço não é prova de soberania. É a consequência de um governo que priorizou ideologia em vez de interesse nacional. E que agora tenta transformar o fracasso em heroísmo.
O agro exige respeito. E o Brasil precisa urgentemente voltar a ser levado a sério no cenário internacional.