Agro brasileiro critica tarifa de 50% dos EUA e reforça apoio a Lula: “Medida injustificável”

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) manifestou, nesta quinta-feira (10), repúdio à decisão dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras. A medida, anunciada pelo presidente Donald Trump em carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na quarta-feira (9), entrou em vigor a partir de 1º de agosto e representa um agravamento do conflito comercial entre os dois países.
Em nota, a CNA classificou a ação como “injustificável” e destacou que a imposição unilateral vai na contramão da histórica cooperação entre Brasil e EUA, que sempre se pautou pelo respeito ao livre comércio. “Essa medida não encontra justificativa no contexto das relações bilaterais, que historicamente se desenvolveram em ambiente de equilíbrio e respeito mútuo”, afirmou a entidade.
A nova tarifa de 50% será cobrada além das taxas já existentes para setores específicos, como aço e alumínio, e coloca o Brasil como o país mais tarifado pelo governo americano entre as 22 nações afetadas pela recente política comercial de Trump.
O governo Trump tem adotado, desde o início do mandato, uma postura protecionista e, em especial, tem direcionado sanções econômicas ao Brasil e aos países do bloco Brics. Na carta, o presidente americano justificou a medida afirmando que o Brasil não estaria “sendo bom” para os Estados Unidos, numa referência às relações comerciais entre os dois países.
Dados oficiais apontam que os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. Em 2024, o Brasil exportou US$ 40,3 bilhões para o mercado americano, enquanto importou US$ 40,6 bilhões. Embora haja um déficit comercial para o Brasil, a relação é próxima do equilíbrio. No setor do agronegócio, os dois países competem em produtos como soja e algodão no mercado internacional.
A CNA alertou que o tarifaço pode prejudicar não só a economia brasileira, mas também a americana, causando impacto negativo para empresas e consumidores em ambos os países. “As relações comerciais e de investimento entre Brasil e Estados Unidos sempre foram vantajosas para as duas nações, sem desequilíbrios injustos”, reforçou a entidade.
Além disso, a CNA defende que os conflitos comerciais devem ser solucionados por meio do diálogo constante entre os governos e setores produtivos, sem que a economia e o comércio sejam usados como moeda de troca para disputas políticas.
O posicionamento da CNA foi acompanhado pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), que externou preocupação com o uso da tarifa como ferramenta política e criticou o embate entre os presidentes Lula e Trump. Segundo o Ciesp, essa postura tem gerado prejuízos concretos para a produção industrial, os trabalhadores e a sociedade em geral.
O Ciesp também contestou os argumentos do governo americano para a cobrança, ressaltando que, na última década, os Estados Unidos acumularam superávit de US$ 91,6 bilhões na balança comercial de bens com o Brasil, valor que chega a US$ 256,9 bilhões se incluído o comércio de serviços.
Outro setor que se manifestou foi a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), que apontou que a tarifa trará impactos negativos importantes para as exportações de equipamentos elétricos, especialmente aqueles ligados à infraestrutura de recarga de veículos elétricos, um mercado em expansão nos Estados Unidos.
A escalada das tarifas entre Brasil e Estados Unidos revela o desafio de manter uma relação comercial estável diante de tensões políticas e econômicas, ressaltando a importância do diálogo e da negociação para preservar os interesses de ambos os países.