Estudo da USP revela retorno superior a 50% por real investido na agricultura familiar via PNAE

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) aponta que os investimentos do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) na agricultura familiar geram retornos significativos à economia. Segundo os dados que serão divulgados pelo Observatório da Alimentação Escolar (ÓAÊ) na próxima semana, cada R$ 1 destinado à compra de alimentos da agricultura familiar via PNAE retorna R$ 1,52 para agricultores familiares e R$ 1,66 para pecuaristas familiares.
O programa, criado por uma lei em 2009, determina que pelo menos 30% dos recursos federais utilizados na aquisição de alimentos para merenda escolar sejam aplicados na agricultura familiar. A análise da USP comparou dados dos Censos Agropecuários de 2007 (antes da lei) e 2017 (com a lei em vigor), além de considerar o orçamento de R$ 4,47 bilhões do PNAE em 2017 — dos quais ao menos R$ 1,3 bilhão deveria ter sido destinado à agricultura familiar.
Entretanto, o levantamento também revela que a maioria dos municípios brasileiros não cumpriu a meta estabelecida. Em 2017, apenas 48% das 5.475 cidades atingiram o mínimo de 30% de compras da agricultura familiar exigido pela legislação.
Mesmo com o cumprimento parcial, os efeitos do programa são expressivos. Os municípios que seguiram a legislação registraram um crescimento de 9,8% na produção agrícola familiar e de 4,5% na produção pecuária entre 2007 e 2017.
Além dos impactos diretos nos produtores, a política pública contribuiu para um aumento de 0,65% na renda nacional, beneficiando especialmente trabalhadores e proprietários rurais. Os pesquisadores destacam que os resultados poderiam ser ainda melhores com políticas complementares.
“Políticas complementares de fortalecimento da agricultura familiar, como é o caso da assistência técnica e extensão rural, das políticas de crédito e seguro agrícola, assim como um maior apoio técnico e incentivo para que as gestões locais do PNAE utilizem os instrumentos legais para a compra direta da agricultura familiar, poderiam também potencializar os resultados econômicos, sociais e ambientais das compras públicas do Pnae”, afirmam os autores do estudo.