Pressão internacional e gargalos internos encarecem adubação no Brasil

O Brasil, gigante na produção de alimentos e commodities agrícolas, enfrenta um paradoxo quando o assunto é insumo agrícola: apesar do alto desempenho nas lavouras, o país depende fortemente da importação de fertilizantes, tornando-se vulnerável às oscilações do mercado internacional.

Em 2024, o país registrou um volume recorde de 42 milhões de toneladas de fertilizantes minerais importados. A projeção para 2025 é de nova alta na demanda, consolidando o Brasil como o maior importador mundial. A produção interna segue limitada — menos de 15% da necessidade nacional é suprida localmente, devido a fatores como carência de matérias-primas, dificuldades geológicas e falta de incentivo industrial.

Essa dependência expõe o agronegócio a riscos como variação cambial, retração da oferta global e concorrência com outros países compradores, como a Índia. As tensões geopolíticas, sobretudo entre Rússia e Ucrânia, e a volatilidade econômica global intensificam a instabilidade no setor.

Desde a pandemia, o segmento enfrenta margens apertadas, inadimplência e prejuízos, especialmente após a disparada dos preços em 2022. Muitos distribuidores e agricultores adquiriram fertilizantes a valores elevados e não conseguiram repassar os custos após a queda nos preços, o que agravou o endividamento e provocou pedidos de recuperação judicial por parte de empresas misturadoras.

Para a safra 2025/26, a principal preocupação é o custo crescente, sobretudo na adubação fosfatada. A China mantém restrições às exportações de fósforo, enquanto o avanço da indústria de baterias elétricas compete pelas mesmas matérias-primas. O MAP, fertilizante fosfatado amplamente utilizado, atingiu US$ 700 por tonelada no fim de abril — maior valor desde o início da guerra no Leste Europeu.

No caso do cloreto de potássio, os preços voltaram a subir desde novembro de 2024, após um período de queda, pressionados pela demanda brasileira e baixa produção no Canadá e na Rússia. Já a ureia continua com preços voláteis, influenciada por leilões na Índia e pelo custo do gás natural, devendo ganhar força no segundo semestre com a preparação da segunda safra.

O cenário é de incertezas, o que pode atrasar decisões de compra e concentrar a demanda nos meses que antecedem o plantio. A eficiência logística e a disponibilidade de volumes serão determinantes. Apesar da recente queda do dólar, os preços dos insumos devem se manter elevados.

A realidade evidencia um dilema estratégico: o Brasil é uma potência agrícola, mas permanece frágil em relação à produção de fertilizantes — um dos pilares da produtividade no campo. Ampliar a produção nacional, fortalecer alianças internacionais e investir em tecnologia e inteligência de mercado são medidas urgentes para reduzir essa vulnerabilidade.

Diante desse quadro, o sucesso na próxima safra dependerá de planejamento preciso, gestão de risco eficiente e decisões baseadas em dados confiáveis para garantir a competitividade e a rentabilidade dos produtores brasileiros.

Redação Pec&AgrBr

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