Produtores de soja em MT enfrentam safra desafiadora com atraso, chuva e logística precária

A safra de soja 2024/25 de Mato Grosso tem sido marcada por grandes desafios para os produtores rurais. O atraso no início das chuvas já comprometeu o calendário de plantio, e o período de colheita também foi afetado por chuvas intensas, que prejudicaram a qualidade dos grãos e dificultaram os trabalhos no campo. Com os problemas climáticos somados à falta de infraestrutura, a pressão sobre o setor agrícola cresceu consideravelmente.
De acordo com o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA), até 20 de fevereiro, apenas 50,08% da área plantada havia sido colhida, contra 65,07% no mesmo período do ano anterior. A situação só melhorou em março, com o avanço da colheita para 91,84% até o dia 7. No entanto, os desafios com armazenagem e escoamento seguem prejudicando a operação dos produtores.
Luiz Pedro Bier, vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja MT), destaca a falta de estrutura como um dos principais entraves. Segundo ele, a carência de armazéns gera longas filas e faz com que os caminhões fiquem dias parados aguardando descarga. “A carroceria do caminhão acaba sendo um instrumento de armazenagem para o produtor rural. Isso eleva os custos, já que é necessário contratar mais caminhões do que o ideal”, aponta.
Além disso, ele reforça a necessidade de investimentos em infraestrutura: “Precisamos de mais asfalto, ferrovias, hidrovias e linhas de crédito para armazéns. A maioria está nas mãos de grandes empresas, o que limita a capacidade de operação dos produtores.”
Na região norte, Alexandre Falchetti, coordenador da Aprosoja em Marcelândia, relata que a colheita começou de forma conturbada devido à chuva excessiva em janeiro. “Não é comum chover tanto nesse mês. Tivemos problemas com grãos avariados e dificuldade de descarga nos armazéns, que chegaram a recusar carga com sementes fora do padrão.”
O impacto também foi sentido no calendário da segunda safra. “O atraso na entrega de adubos complicou o plantio do milho”, diz Falchetti.
No oeste de Mato Grosso, Helena Maria Sandri, coordenadora em Diamantino, relata que a qualidade dos grãos foi comprometida pelas chuvas. “Sofremos com grãos avariados e filas nos armazéns de até 48 horas. A logística ficou ainda mais pressionada com o tempo limitado de sol e a escassez de caminhões.”
Na região sul, Rafael Marsaro, de Campo Verde, explica que a falta de estrutura para secagem e armazenagem também causou perdas. “Mesmo com um bom início de colheita, o excesso de umidade e a capacidade limitada dos armazéns resultaram em grandes prejuízos.”
O produtor Jean Marcell Benetti, de Paranatinga, no leste do estado, conta que chuvas constantes prejudicaram tanto as lavouras quanto as estradas. “Tivemos fazendas com 200 mm de chuva em uma noite. A cidade sofreu enchentes. Muitos produtores precisaram arrumar trechos de estrada por conta própria para conseguir transportar a safra.”
Jaqueline Piovesan, do Vale do Arinos, reforça que a falta de armazéns próprios obriga muitos produtores a recorrer a estruturas de terceiros. “Com grãos úmidos e fora do padrão, muitos armazéns recusam o recebimento. Além disso, chuvas vêm tornando estradas vicinais intransitáveis.”
Os reflexos logísticos também impactaram as exportações. De janeiro a fevereiro de 2025, o Brasil exportou 7,5 milhões de toneladas de soja, uma queda de 20,77% em relação ao mesmo período de 2024. Em Mato Grosso, a redução foi de 24,43%, com 2,65 milhões de toneladas exportadas.
Apesar das adversidades, os produtores seguem atuando para minimizar os impactos da safra. A Aprosoja MT continua em busca de soluções junto ao setor público e privado para enfrentar os gargalos estruturais que comprometem a competitividade do agronegócio mato-grossense.