‘Super cana’ de Eike Batista promete revolucionar etanol e atrai R$ 2,5 bi

O polêmico empresário Eike Batista voltou aos holofotes com um projeto ambicioso: a “super cana”, uma variedade de cana-de-açúcar que promete triplicar a produção de etanol e gerar 12 vezes mais biomassa que a tradicional. O empreendimento recebeu um aporte de US$ 500 milhões (cerca de R$ 2,5 bilhões), captado por meio de um fundo estruturado por Mário Garnero, que conta com investimentos do Abu Dhabi Investment Group (ADIG), dos Emirados Árabes, e do próprio Garnero.

Aporte financeiro e estrutura do projeto

Os recursos serão destinados à aquisição e operação do primeiro módulo do projeto, que será desenvolvido em 70 mil hectares de terra ao redor do Porto do Açu. Segundo Eike, quando este módulo estiver 100% operacional, sua capacidade será de 1 bilhão de litros de etanol por ano e 1 milhão de toneladas de biomassa.

Em troca do aporte financeiro, o fundo de Garnero ficará com 40% de participação no módulo. O interesse do fundo de Abu Dhabi se deve, sobretudo, à produção de combustível sustentável de aviação (SAF), que pode atender à demanda da Emirates Airlines.

Tokenização para financiar expansão

A segunda fase do projeto inclui terras no Brasil e uma planta na Flórida para beneficiamento da biomassa. O financiamento será feito por meio do lançamento de um token chamado $EIKE, uma iniciativa inovadora para captar mais recursos. O plano é vender 100 milhões de tokens a US$ 1 cada, levantando mais US$ 100 milhões. Os detentores do token terão direito a 10% dos lucros futuros do projeto.

Cada módulo do projeto seguirá um cronograma escalonado de expansão: 50 hectares no primeiro ano, 1.000 hectares no segundo e 20.000 hectares no terceiro. A previsão é que, no quarto ano, cada unidade gere um EBITDA de US$ 5,9 bilhões. Considerando um múltiplo de 10,5x EBITDA, Eike estima que o valuation de cada módulo pode chegar a US$ 63 bilhões.

A origem da ‘super cana’ e a retomada do projeto

Apesar de ser apresentado como uma inovação disruptiva, a super cana não é um projeto recente. Seu desenvolvimento teve início há mais de 20 anos, liderado pelos brasileiros Luis Carlos Rubio e Sizuo Matsuoka. A pesquisa começou em 2002, financiada pela Votorantim Novos Negócios, e resultou na criação da CanaVialis, vendida à Monsanto em 2008. Em 2011, Rubio e Matsuoka fundaram a Vignis, empresa que passou a contar com Eike como investidor a partir de 2015. Entretanto, com a prisão e a ruína financeira do empresário em 2017, a Vignis entrou em falência.

Agora, Eike retorna ao projeto com um acordo de participação na BRXe, empresa detentora da patente das 17 variedades da super cana. Se conseguir levantar os recursos prometidos, ele poderá expandir a produção e concretizar sua visão de substituir gradativamente a cana tradicional pela variedade de alta produtividade.

Promessas versus ceticismo

Eike Batista defende que a super cana é a maior revolução da cana-de-açúcar das últimas décadas, destacando que sua produtividade pode transformar o agronegócio brasileiro. Segundo ele, enquanto a cana comum gera 58 toneladas por hectare, a variedade BRXe atinge até 208 toneladas. Além disso, o bagaço pode ser usado para produzir plástico biodegradável, tornando o projeto um potencial aliado na transição para uma economia mais sustentável.

No entanto, o projeto já enfrenta críticas. O magnata Rubens Ometto, da Cosan, um dos nomes mais influentes do setor sucroenergético, afirmou que tecnologias semelhantes já foram testadas no passado sem sucesso. Segundo ele, “na prática, os resultados nunca se confirmaram”.

Outra figura que entrou na discussão foi André Esteves, do BTG, criticado por Eike, que o chamou de “Darth Vader das finanças” e o acusou de boicotar seus projetos anteriores. O banqueiro ainda não se manifestou publicamente sobre o assunto.

O futuro da super cana

Diante do histórico conturbado de Eike Batista, muitos investidores encaram o projeto com desconfiança. No entanto, o volume de capital levantado e o envolvimento de players internacionais indicam que a super cana pode, de fato, ganhar espaço no mercado. Se os planos de Eike Batista se concretizarem, a nova variedade poderá redefinir a produção de etanol e biomassa, alavancando o Brasil como líder global em combustíveis sustentáveis.

No entanto, resta saber se o projeto resistirá à prova do tempo ou se será mais um dos muitos planos grandiosos que ficaram pelo caminho.

 

Redação Pec&AgrBr

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