Produtores goianos de cana-de-açúcar formam associação para enfrentar desafios econômicos no setor

A cana-de-açúcar desempenha um papel crucial no agronegócio brasileiro, sendo a segunda maior cultura agrícola do país e responsável por aproximadamente 2% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, conforme dados de 2023 do IBGE. No entanto, a produção destinada ao etanol tem enfrentado desafios nos últimos anos, com o aumento da oferta de etanol de milho, que tem impactado negativamente a competitividade do setor sucroalcooleiro. Este é um dos principais motivos de preocupação para a Associação dos Defensores do Agro (Adeagro), criada por produtores da região de Quirinópolis, no estado de Goiás, em 2024.

A formação da Adeagro ocorreu em resposta a um desequilíbrio nos preços pagos pela tonelada de cana-de-açúcar na safra 23/24, com usinas locais oferecendo preços defasados, chegando a uma diferença superior a 40% em relação ao valor final da safra, conforme dados do CONSECANA/SP. A situação, que impacta diretamente a rentabilidade dos produtores, foi intensificada pela entrada do etanol de milho no mercado, o que alterou significativamente os preços do etanol produzido a partir da cana-de-açúcar.

Elizabeth Alves, presidente da Adeagro e produtora rural, explica os desafios enfrentados pelos produtores: “A diferença entre o valor antecipado e o preço final da safra 23/24 reflete diretamente o impacto no preço e no volume da comercialização do etanol, produto com maior volume de fabricação nas usinas da região. Temos produtores endividados com a usina, o que causa um impacto brutal nas finanças dos pequenos e médios produtores. É difícil explicar os motivos dessa situação.”

Quirinópolis, que é o segundo maior produtor de cana-de-açúcar de Goiás, tem uma importância significativa para a economia local, com mais de 100 produtores que somam aproximadamente 22 mil hectares de áreas produtivas. Diante desse cenário, a Adeagro busca fortalecer os canavieiros da região, promovendo educação sobre o modelo de remuneração do mercado e os riscos para a sustentabilidade do negócio.

A associação também se dedica à melhoria dos acordos comerciais, à inclusão de subprodutos da cana-de-açúcar, como o açúcar e a energia, e à criação de alternativas que proporcionem maior segurança e retorno financeiro aos produtores. “Os preços praticados atualmente na região tornam a produção de cana-de-açúcar inviável para a grande maioria dos produtores, levando-os a buscarem por outras formas de uso da terra, mais rentáveis. Isso terá um impacto na renovação dos contratos e, consequentemente, na produção de cana na região”, aponta Elizabeth Alves.

Em um cenário onde os custos de produção estão elevados, a produção de uma tonelada de cana custou R$ 106,79, e o preço atual da tonelada com 135 quilos de Açúcar Total Recuperável (ATR) é de apenas R$ 114,75. Isso resulta em uma margem de lucro de apenas R$ 7,96, sem contar com custos tributários e outros serviços não diretamente relacionados à operação agrícola.

A Adeagro busca, assim, aumentar sua representatividade junto a entidades do setor e garantir uma negociação justa para os produtores, com foco na proteção dos pequenos e médios produtores, que são os mais afetados pela defasagem de preços. “Nossa missão é fortalecer esses e outros produtores que desejam se filiar, para alcançar uma negociação justa com as empresas e os órgãos reguladores, além de proteger, principalmente, os pequenos e médios produtores, os mais afetados por essa defasagem. Queremos ter um papel ativo na representatividade da região e criar um modelo sustentável para todos – usinas e produtores”, finaliza a presidente da Adeagro.

A união entre produtores e usinas é vista como crucial para superar os desafios do setor e garantir um futuro mais equilibrado e sustentável para a cana-de-açúcar em Goiás e no Brasil.

Redação Pec&AgrBr

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