Quaresma afeta a produção de ovos? Especialista esclarece o que é mito

Com a chegada do fim da Quaresma, um questionamento recorrente volta a circular entre produtores e consumidores: as galinhas voltam a botar ovos normalmente após o período religioso? A dúvida é antiga e, apesar de parecer folclórica, tem um fundo de verdade — mas por motivos puramente naturais, e não religiosos.

Segundo Márcia Portugal Santana, coordenadora de Pequenos Animais da Emater-MG, a redução na produção de ovos entre março e julho é real, mas não tem relação com a Quaresma. “As galinhas não seguem o calendário religioso. O que afeta a postura é a menor disponibilidade de luz natural, especialmente nas galinhas sem raça definida, as chamadas ‘pé-duras’”, esclarece.

O papel da luz natural na produção de ovos

Março e abril marcam a transição do verão para o outono, e com ela vem a diminuição da luminosidade diária. Os dias passam a começar mais tarde e escurecer mais cedo, alterando o estímulo luminoso que interfere diretamente no metabolismo das aves.

A redução da luz afeta especialmente as galinhas sem linhagem definida, que são mais sensíveis às mudanças do ambiente. “Essas aves reduzem, e em alguns casos até suspendem completamente a postura de ovos nesse período. A queda começa no outono e atinge o ápice perto de junho, quando ocorre o dia mais curto do ano”, afirma Márcia.

Ao contrário do que muitos pensam, a queda na produção não está ligada à troca de penas, mas sim à influência da luz sobre o ciclo reprodutivo das aves. Já as galinhas de raças e linhagens comerciais, geneticamente aprimoradas, mantêm uma produção mais estável, mesmo com variações de luminosidade.

Portanto, é incorreto afirmar que as galinhas param de botar ovos por causa da Quaresma. A coincidência entre o calendário religioso e a redução natural da postura é o que alimenta o mito. Na prática, a baixa na produção se estende até meados do inverno, quando os dias voltam a se alongar.

Exportações em alta

Enquanto a produção interna segue seu ritmo natural, as exportações de ovos brasileiros estão em forte crescimento. Segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), em março de 2025 o país exportou 3.770 toneladas de ovos (in natura ou processados), contra 853 toneladas no mesmo mês de 2024 — um aumento expressivo de 342,2%.

O principal destino foi os Estados Unidos, que enfrentam um surto de gripe aviária e têm buscado alternativas para suprir a demanda interna por ovos. O Brasil, por sua vez, consolida-se como fornecedor confiável no mercado internacional, impulsionado por sua sanidade animal e capacidade produtiva.

Conclusão

A crença de que as galinhas voltam a botar ovos após a Quaresma não passa de uma coincidência entre calendário religioso e fenômenos naturais. A explicação está na biologia das aves e na redução da luz natural durante o outono e inverno, que interfere diretamente no ritmo de postura. Enquanto isso, o setor avícola brasileiro segue em expansão, com destaque para o desempenho nas exportações.

Para os consumidores e produtores, o mais importante é compreender que o ciclo das galinhas segue o sol e não o calendário litúrgico.

 

Redação Pec&AgrBr

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