Grupo Safras entra em recuperação judicial com dívida bilionária e preocupa o agronegócio

O setor agroindustrial brasileiro enfrenta um novo abalo com a entrada do Grupo Safras em recuperação judicial, oficializada em 4 de abril de 2025, pela 4ª Vara Cível de Sinop (MT). O conglomerado, que inclui as empresas Safras Armazéns Gerais, Safras Bioenergia e Safras Agroindústria, acumula um passivo que supera os R$ 2 bilhões, revelando a gravidade da crise financeira que atravessa.
Segundo a petição, o grupo optou por um único processo de recuperação judicial para todas as empresas e produtores rurais vinculados, visando à economia processual e maior eficiência na reestruturação. A empresa destaca sua história de parcerias com produtores e agentes do setor, além da capilaridade de suas operações, com filiais distribuídas em diversas regiões.
As causas do colapso são atribuídas à queda dos preços da soja em 2023, que comprometeu o escoamento da safra e gerou acúmulo nos armazéns; à aquisição da Copagri, que trouxe um passivo de mais de R$ 500 milhões; e aos altos investimentos em uma usina de etanol de milho em Sorriso (MT), sem o devido suporte financeiro. A integração operacional entre Safras Armazéns e Copagri também apresentou falhas, aumentando os custos e dificultando a sinergia entre as empresas.
Os impactos da recuperação judicial são significativos. Entre os principais credores estão o fundo Flowinvest, com exposição de R$ 300 milhões via FIDC; o Banco do Brasil e a Caixa, com valores não divulgados; além de investidores de CRAs herdados da Copagri, como os fundos Vectis, VCRA11 e RURA11, ligados ao Itaú Asset, que juntos somam R$ 150 milhões. Estima-se que o plano de recuperação possa incluir descontos de até 50% sobre os débitos.
O grupo também solicitou medidas urgentes ao Judiciário, como a antecipação do stay period – que suspende execuções e ações judiciais – e a declaração de essencialidade de 14 armazéns e da planta industrial de Cuiabá (MT), considerados estratégicos para a manutenção das atividades. A planta da capital mato-grossense, inclusive, foi alvo de pedido de reintegração de posse, revertido judicialmente, mas que gerou instabilidade operacional.
Para conduzir a reestruturação, foi contratado Carlos Eduardo de Grossi Pereira, conhecido como “Cacá”, profissional com experiência em situações similares, como na GTFoods. Entre as medidas emergenciais adotadas estão o fechamento de escritórios, redução da capacidade de armazenagem e negociações com o BTG Pactual para transferência parcial de operações.
Apesar do cenário adverso, o Grupo Safras aposta no valor estratégico de seus ativos, como a usina de etanol e as unidades de grãos, para atrair investimentos e reequilibrar sua situação financeira. Em nota, a empresa afirmou que, com a suspensão das cobranças, pretende criar um ambiente jurídico seguro para retomar a recepção de grãos e garantir operações durante a safra.
O caso será acompanhado de perto por todo o setor do agronegócio, dado o tamanho do grupo e seu papel relevante na cadeia de produção. A recuperação judicial do Grupo Safras evidencia os riscos de uma gestão agressiva em momentos de volatilidade e alerta para a necessidade de planejamento financeiro mais cauteloso no setor.