Café vira alvo de ladrões em Minas após disparada no preço da saca

A alta recorde no preço do café tem provocado um temor inédito entre cafeicultores do interior de Minas Gerais, maior produtor mundial do grão. Se antes os agricultores temiam perder máquinas, implementos e fertilizantes, agora a preocupação se estende até mesmo a furtos de café ainda no pé.
Atualmente cotado a mais de R$ 2.500 a saca de 60 quilos, o café tem se transformado em um alvo lucrativo para criminosos. O fenômeno se intensificou nos últimos meses, especialmente no Sul de Minas, no Triângulo Mineiro e na Zona da Mata. Agricultores, principalmente da agricultura familiar, relatam que os prejuízos impactam diretamente o orçamento ao longo do ano.
Os furtos ocorrem tanto por pequenos ladrões, que agem sozinhos durante a noite, quanto por quadrilhas organizadas. Em Ilicínea, no Sul de Minas, um homem foi detido no mês passado com uma saca cheia de café colhida ilegalmente. Em Campestre, criminosos furtaram café diretamente dos pés, enquanto em São Sebastião do Paraíso, chegaram a roubar mudas recém-plantadas.
A preocupação com a segurança tem levado produtores a reforçar medidas de proteção. “Temos câmeras, porteiras, cachorros, mas ainda é difícil. Até café no pé estão roubando. Em meia hora, um ladrão pode encher um saco”, relata Zuliander Silva, cafeicultor de Alpinópolis.
A valorização constante do grão tem impulsionado esse tipo de crime. Segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, a saca do café arábica passou de R$ 1.003 no início de 2024 para R$ 2.553 em março de 2025. Em dólares, o valor subiu de US$ 204,34 para US$ 446,68 no mesmo período.
Além de pequenos furtos, há registros de grandes ações criminosas. Em Jacutinga, a Polícia Civil recuperou, na última quarta-feira (19), uma carga de café avaliada em R$ 2 milhões que havia sido furtada no porto de Santos. Em Lavras, sete pessoas foram presas no mês passado suspeitas de integrar uma quadrilha especializada nesse tipo de roubo.
Diante da crescente insegurança, produtores têm se mobilizado para discutir estratégias de proteção. O tema foi destaque na Femagri, feira organizada pela Cooxupé, maior cooperativa do setor, que recebeu 42 mil visitantes. José Eduardo dos Santos Júnior, superintendente da cooperativa, alerta para o valor atrativo do grão para os criminosos: “Uma tonelada de fertilizante custa R$ 2.500, enquanto um saco de café tem o mesmo valor e pode ser carregado sozinho”.
Além do prejuízo econômico, agricultores alertam que o furto de café ainda verde pode comprometer a qualidade do produto no mercado. Com a aproximação da próxima safra, o setor teme um aumento nos crimes e busca soluções para proteger suas lavouras e manter a competitividade da cafeicultura mineira.