Vice-presidente da Fieg vê possível acordo para commodities após tarifaço de Trump, mas alerta para risco à indústria

O vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), Flavio Rassi, avaliou que o tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tende a impactar fortemente a indústria brasileira, incluindo as exportações de Goiás, e defendeu uma abordagem diplomática e pragmática para mitigar os efeitos da medida. Segundo ele, há expectativa de negociação para manter a exportação de commodities, mas a manufatura tende a ser diretamente prejudicada.
“É difícil avaliar o impacto em Goiás de forma isolada, porque a cadeia de valor muitas vezes está distribuída por diferentes estados. Mas, nas commodities, deve haver algum tipo de negociação. Não é possível que os países fiquem sem produtos básicos. Mesmo sem o recuo de Trump, ainda vamos exportar commodities. Mas a manufatura vai comprar de outros”, alertou.
Dados da Secretaria de Indústria e Comércio (SIC) mostram que, em 2025, Goiás exportou cerca de US$ 337 milhões para os Estados Unidos. Desse total, US$ 208 milhões referem-se a carnes, miudezas e outros produtos comestíveis.
Para Rassi, a indústria é a principal geradora de crescimento, emprego e arrecadação no país. “A indústria gera riqueza, exporta, traz valor de volta para o Brasil e aplica aqui. Se falta nisso, falta para todos”, afirmou. Ele teme que a decisão de Trump funcione como um “tiro de misericórdia” na já combalida indústria nacional. “O PIB industrial já vinha caindo. A curto prazo, o impacto será direto. Rearranjar leva tempo.”
Ele defendeu negociações urgentes com os Estados Unidos para tentar reduzir a tarifa ou, pelo menos, adiar sua aplicação, prevista para 1º de agosto. Ao mesmo tempo, reforçou a necessidade de o Brasil buscar novos mercados. “Nós, na Fieg, temos produzido material técnico para os parlamentares e para o governo, reforçando a necessidade de negociação, e não de retaliação.”
Rassi também fez críticas à politização do tema. Segundo ele, tanto aliados do presidente Lula (PT) quanto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) têm tentado capitalizar politicamente com a crise. Para o dirigente da Fieg, o foco deve ser técnico e estratégico.
“O problema não é Lula ou Bolsonaro. O que incomoda os EUA é o alinhamento do Brasil com os Brics – Rússia, China… Trump tenta proteger o dólar e reindustrializar os Estados Unidos. Tanto que oferece isenção e incentivos para quem montar fábrica lá”, disse.
Ele acrescentou que, caso a tarifa de 50% persista, o impacto no PIB brasileiro pode variar de 20% a 30%. “Precisamos agir com pragmatismo nas relações internacionais. Não se trata de ceder soberania, mas de buscar o melhor para a população.”
Rassi também chamou a atenção para possíveis efeitos internos da medida. Segundo ele, se a indústria brasileira exportar menos, também deverá importar menos. “Se você importa para produzir para o mercado externo, vai produzir menos e importar menos. Isso também impacta na inflação, nos alimentos, no dólar…”
Concluindo, o vice-presidente da Fieg reforçou que a situação deve ser tratada com seriedade e responsabilidade pelo governo federal. “Não é uma oportunidade política. É um problema técnico, de perda de riqueza e empobrecimento do país. O governo precisa se responsabilizar e negociar.”