Crise financeira no agronegócio: setor bate recorde de recuperações judiciais em 2024

Dados inéditos da Serasa Experian revelaram que, ao longo de 2024, o agronegócio brasileiro registrou 1.272 pedidos de recuperação judicial. Esse número representa um aumento expressivo em relação a 2023, quando o total de solicitações foi de 534. A alta reflete o impacto de diversos fatores que afetaram a saúde financeira dos produtores e proprietários rurais, especialmente aqueles mais alavancados.

De acordo com Marcelo Pimenta, head de agronegócio da Serasa Experian, os principais desafios enfrentados pelo setor foram a alta da taxa de juros, o aumento dos custos de produção com insumos agrícolas e as adversidades climáticas. Esses fatores pressionaram as finanças dos produtores, levando a um número recorde de recuperações judiciais.

Crescimento trimestral indica agravamento da crise

A análise da Serasa Experian também revelou que, no recorte trimestral de 2024, houve crescimento no número de pedidos. No quarto trimestre do ano, o setor agropecuário registrou 320 pedidos de recuperação judicial, contra 254 solicitações no terceiro trimestre. Esse aumento comprova um represamento de pedidos ocorrido entre julho e setembro, indicando que o último trimestre trouxe um retrato mais fiel da crise financeira enfrentada pelo setor.

Apesar do aumento significativo, Pimenta pondera que o número absoluto de solicitações ainda é relativamente pequeno frente ao universo de aproximadamente 1,4 milhão de produtores rurais que tomaram crédito nos últimos dois anos no país.

Produtores pessoa física lideram recuperações judiciais

Os produtores rurais que atuam como pessoa física foram os mais afetados pela crise, somando 566 pedidos de recuperação judicial em 2024. Esse número representa um aumento significativo em relação a 2023, quando foram registrados 127 pedidos. O crescimento também foi observado no comparativo trimestral, com alta de 32,1% entre o terceiro e o quarto trimestre de 2024.

Dentre os produtores pessoa física, 224 pedidos foram realizados por arrendatários ou grupos econômicos ligados ao setor, enquanto grandes proprietários responderam por 132 solicitações. Pequenos e médios produtores registraram 113 e 97 pedidos, respectivamente.

Produtores pessoa jurídica e empresas do setor também são impactados

Os produtores rurais que atuam como pessoa jurídica também enfrentaram dificuldades financeiras, com 409 pedidos de recuperação judicial em 2024, um aumento significativo em comparação aos 162 pedidos registrados em 2023. Entre os setores mais afetados estão o cultivo de soja (222 pedidos), a criação de bovinos (75) e o cultivo de cereais (49). Mato Grosso e Goiás foram os estados com maior número de pedidos nessa categoria.

As empresas relacionadas ao agronegócio também registraram crescimento no número de recuperações judiciais, com 297 pedidos em 2024 contra 245 em 2023. A maioria das solicitações veio de agroindústrias de transformação primária (73), serviços de apoio à agropecuária (64) e indústrias de processamento de agroderivados (58). Os estados de São Paulo e Paraná lideraram os pedidos, seguidos por Goiás, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Uso de tecnologia pode mitigar riscos financeiros

Para reduzir riscos na concessão de crédito, a Serasa Experian destacou a importância do uso de ferramentas como o Agro Score, que permite prever riscos de inadimplência e identificar sinais de instabilidade financeira nos produtores rurais com meses de antecedência. Segundo a empresa, o Agro Score médio dos produtores que solicitaram recuperação judicial era significativamente menor do que o dos que conseguiram manter suas finanças equilibradas.

“Usar análises mais criteriosas para conceder crédito protege o mercado e reduz o risco de financiamentos a perfis economicamente instáveis, contribuindo para a saúde financeira do setor”, conclui Marcelo Pimenta.

Metodologia

O levantamento da Serasa Experian foi baseado nas estatísticas de processos de recuperação judicial registrados mensalmente na base de dados da companhia e provenientes dos tribunais de justiça de todos os estados brasileiros. Foram considerados proprietários e produtores rurais de todos os portes, tanto pessoas físicas quanto jurídicas, além de empresas ligadas ao setor com Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE) relacionada ao agronegócio. As análises estaduais foram realizadas com base na Unidade Federativa cadastrada pelo demandante.

 

Redação Pec&AgrBr

Missão: Fornecer informações de alta qualidade que ajudem a desenvolver o agronegócio brasileiro de forma sustentável, eficiente e inovadora.

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